Dust - Capítulo 2


32 anos antes, Albion


A decadência de Albion estava no limite, mas as pessoas não viam, ou não queriam ver. Amadan sabia como controlar o povo, só não conseguia controlar a todos. Havia entre os cidadãos aqueles que enxergavam a verdade, que lutavam em segredo para que a opressão caísse. Para esses, o burgomestre tinha uma solução. Os subversivos ao regime eram eliminados. A cidade possuía uma taxa muito alta de pessoas desaparecidas, e mais uma vez ninguém parecia se importar.
Owen observava o movimento da rua enquanto pensava nessa vida incerta dentro dos muros daquele lugar.  Via as pessoas andando pela rua, alheias aos segredos sórdidos da elite de Albion. Passavam sede e fome enquanto os mais afortunados esbanjavam os recursos. A luta deste homem era constante, ele queria uma cidade melhor, mais justa, e por esse motivo decidiu engajar-se na vida política. Toda semana participava do Conselho Público, toda semana lutava por leis mais justas, pela esperança de um amanhã melhor para o povo.
Era fim de tarde, as ruas já perdiam o movimento e em poucas horas o Conselho se reuniria. Olhou para o horizonte, respirou fundo, virou-se e abriu a porta. Um brilho, algo como um flash, fez Owen virar-se novamente. Viu um homem parado no meio da rua, olhando atentamente tudo ao seu redor. Parecia perdido.
— Posso ajuda-lo, senhor? – Owen perguntou atencioso, embora surpreso com a situação. Estava olhando para a rua até aquele momento e não havia visto ninguém, e aquele brilho diferente...
— Oh, desculpe! Estou um pouco desorientado... procuro por uma pessoa, disseram que mora por aqui.
— Um parente?
— Não, um profissional! Uma pessoa que entenda da região, história local, solo e que possa ser meu guia em uma pesquisa. Sr. Owen...
— Sou eu!
— Ah! Que sorte! Meu nome é Simon, poderíamos conversar?
Owen observou-o atentamente com seu jeito desconfiado. Analisou seus trajes finos e alinhados, sua postura nobre e a forma polida com que aguardava e o modo de falar – havia herdado essa característica do pai. Ponderou um pouco e respondeu cordialmente – essa característica veio do lado da mãe:
— Sr. Simon, acredito que tenha vindo de muito longe para me localizar, embora eu não consiga nem em uma vida imaginar como soube de minha existência, muito menos me encontrar, de fato. Não é do feitio dos habitantes de Albion serem cordiais e solícitos o suficiente para que tenham fornecido tal informação de bom grado e posso ter quase certeza de que não sou conhecido fora daqui. Estou certo, também, de que nenhum habitante tenha se atrevido a ultrapassar os limites das muralhas da cidade para aventurarem-se lá fora. Pelo seu traje, garanto que não é daqui e pelo seu sotaque, afirmo que não é de nenhuma cidade conhecida a milhas de distância.
A gargalhada vinda do forasteiro foi profunda e prazerosa, há muito não ouvida igual por Owen.
— Tem o espírito de seu pai... E a educação de sua mãe! Só poderia ser você, Owen.
— Conheceu meus pais? – a revelação quebrou um pouco o gelo entre os dois.
— Sim, conheci seus pais. Conversei pouco com sua mãe, mas tinha muito apreço por seu pai. Por respeito a eles te procuro agora, em um momento importante da sua vida.
— Momento importante? – Simon havia conseguido a atenção de Owen, que até o momento não havia permitido uma aproximação mais cordial.
— Owen, temos assuntos importantes a tratar, mesmo que não entenda isso no momento. Preciso da sua ajuda, assim como você precisará da minha em breve. Tenho informações que deveria saber. Estou disposto a ajuda-lo em sua nobre missão de melhorar a vida dos habitantes de Albion, em troca de sua ajuda para localizar um minério específico.
— Muito bem, Simon, conseguiu minha atenção! Poderemos conversar sobre negócios mais tarde e, depois de algum tempo ponderando e te conhecendo melhor, talvez possamos entrar em um acordo. Mas não te conheço, não confio em você e se, e apenas se, eu aceitar sua oferta, será dentro de meus termos.
Simon sorriu satisfeito com a resposta, fez um aceno com a cabeça e, segurando a aba do chapéu, respondeu:
— Como quiser, Xerife!
 Aquela frase não foi pensada, não saiu de forma jocosa e nem irritou Owen de alguma forma. Ambos riram, mas nenhum deles pensou que a brincadeira continuaria e o apelido pegaria.
Owen nem voltou para dentro de casa, apenas trancou a porta, tomou o caminho do Conselho acompanhado de Simon e foram conversando para se conhecerem melhor.

Comentários

Postagens mais visitadas