Dust - capítulo 1

Baseado nas aventuras da Campanha Dust, para GURPS 4ª Edição.

Bem-vindo a Dust!

Dias atuais, Dust.


O Xerife andava pela rua principal com seu jeito habitual. Educado e comunicativo, cumprimentava os poucos habitantes de Dust enquanto rumava para a loja do ferreiro. Em certo momento, entre a porta da ferraria e a avenida, parou após ouvir um ruído alto vindo de lá. Pouco tempo depois, uma pequena explosão e uma fumaça preta saindo pela porta da frente fez com que o homem da lei fizesse uma carranca, virasse a cabeça para o lado e cuspisse o fumo que mascava. Bem, parece que nosso Xerife não era um cara tão educado assim, mas com certeza era um bom sujeito – simples e ignorante, um provinciano típico, mas um bom homem. Ajeitou o cinto, pousou a mão no coldre apenas por hábito, respirou fundo e adentrou a loja.
— Por Dust, Elliot! O que diabos está fazendo? Mais uma dessas suas invenções malucas?
— Xerife, estou fazendo ciência, trarei o progresso a Dust! Haverá um dia em que...
— Todos os homens andarão em carroças movidas a vapor e não precisaremos de cavalos — continuou o velho.
— Isso mesmo, Xerife!
— Quantas vezes terei que dizer? Simples e prático, Elliot! Simples e prático!
— Cavalos e carroças... são confiáveis e funcionam — respondeu Elliot desanimado.

O Xerife não entendia, o prefeito não entendia. Ninguém em Dust entendia sua genialidade e o que pretendia fazer. Até mesmo em Magnólia e na Capital, de onde viera, suas habilidades eram questionadas pelos magistrados. Lá, ao menos, tinha acesso aos materiais necessários mais facilmente. Gostava de sua vida na Capital, mas foi obrigado a fugir após o acidente em seu laboratório e se refugiar em Dust.
Passado o susto da explosão e após a dispersão parcial da fumaça, Elliot percebeu que o Xerife não estava passando ao acaso em frente à ferraria.
— O que precisa, Xerife? Não veio fazer uma visita de cortesia.
— Elliot, meu rapaz, sabe como nossa vida em Dust é difícil, os problemas não param.
Elliot sabia que algo ruim estava acontecendo, e já foi pegando a caixa de ferramentas.
— Reservatório? – perguntou.
— Sim, Elliot, nossa reserva de água está mais baixa do que deveria. Ou há um vazamento, ou estamos consumindo mais do que deveríamos.
— Será que fomos roubados, Xerife? – Elliot perguntava enquanto fechava a porta.
— Por Dust! Não, Elliot, ninguém aqui faria algo assim.
— Eu sei, Xerife, mas e se...
— NÃO! – A resposta do Xerife foi imediata. Havia raiva, medo e talvez um pouco de incerteza nela. Alguns cidadãos olharam espantados. Recompondo-se, prosseguiu em um tom mais comedido – Não é isso, atravessamos um longo caminho e nossos rastros foram cobertos pela areia há muito tempo. Não nos encontrariam, nem procurariam. Não aqui, além da Vastidão.
Elliot tremeu ao ouvir essa palavra, e mesmo o Xerife não conseguiu esconder uma careta – o nome evocava recordações nada agradáveis ao velho e o garoto, sendo um estudioso e interessado em tudo referente àquela terra de poeira e calor escaldante que chamavam de lar, conhecia a fama daquele lugar e das criaturas que o habitavam. Naquela extensa região de areia fina, desprovida de vegetação ou água e que todos chamavam de Vastidão, havia uma única certeza – morte. Todos os habitantes de Dust sabiam disso.
Uma leve brisa alertou os sentidos do velho, mas Elliot ainda maquinava em seus devaneios o assunto que tratavam a pouco. Voltou a si ao perceber que seu braço estava rangendo. Sim, Elliot era um devoto das maravilhas mecânicas, tão devoto a ponto de remover seu braço esquerdo e substituir por uma prótese mecânica, desenvolvida por ele mesmo há muitos anos, na Capital. Esse procedimento quase o matou, mas desde então seu braço serviu perfeitamente aos seus propósitos, exceto quando parava de funcionar e exigia manutenção, como era o caso agora.
Ainda estava ao lado do Xerife, ou achava que sim. Após olhar para o lado, percebeu que sua abstração o fez caminhar uns seis metros além de onde seu companheiro estava. Voltou apressado, mas notou que sua ausência não havia sido notada. Olhou para o horizonte e viu uma grande nuvem escura avançando.
— Elliot...
— Sim, Xerife?
— Dê o alerta! Corra para o abrigo e prepare-se.
Elliot já estava longe para responder, mas não precisava. Todos em Dust sabiam o que fazer. Não era a primeira tempestade, e não seria a última. A brisa deu lugar a um vento carregado de poeira e detritos antes que os habitantes percebessem a ameaça.
— CORRAM! CORRAM PARA O ABRIGO!
Elliot gritava a plenos pulmões enquanto alcançava a pesada porta do abrigo, um local seguro escavado na rocha. Tentou abri-la, mas estava emperrada. Nada que não pudesse resolver com a marreta acoplada em sua prótese. Posicionou-se, levantou o braço, mas esqueceu que uma das engrenagens estava falhando. Olhou para o horizonte, onde as nuvens se avolumavam e investiam contra a cidade, e viu de relance um brilho, algo diferente de tudo o que já havia visto. Forçou a vista para ver melhor, mas foi interrompido:
— ELLIOT, A PORTA! – gritou o Xerife do meio da rua principal enquanto puxava dois cavalos assustados pelas rédeas. Outros habitantes faziam o mesmo, correndo com o que podiam – animais, mantimentos, utensílios ou o que quer que achassem importante ou estivesse à mão.
— É O QUE ESTOU TENTANDO, XERIFE, MAS A PORTA EMPERROU!
— USE SEU BRAÇO MECÂNICO, GAROTO!
O vento estava mais forte e uivava por entre as construções da cidade. Esta tempestade seria bem maior do que o normal, talvez a maior que haviam visto até agora.
— XERIFE, JURO QUE ESTOU TENTANDO, MAS ELE FALHOU HÁ ALGUNS MINUTOS.
— POR DUST, ELLIOT! PRA QUE DIABOS PERDE TEMPO COM ESSAS BABOSEIRAS DE "MARAVILHAS MECÂNICAS" SE QUANDO PRECISA DELAS NÃO PODEMOS USÁ-LAS? ABRA A MALDITA PORTA!
Em um último ímpeto, Elliot forçou a porta que cedeu rangendo e abriu-se revelando uma gruta espaçosa, com uma passagem estreita que se perdia na escuridão mais ao fundo. Aquela passagem levava à cisterna da cidade, no subterrâneo. Aquele era o lugar mais seguro para se estar durante a tempestade de areia, e era para lá que todos os habitantes corriam neste momento.
Elliot, com a ajuda de Rollo, um pistoleiro forasteiro cheio de tatuagens e de poucos amigos, fechavam uma das folhas da porta, enquanto Thomaz auxiliava o Xerife. Quando os últimos moradores cruzaram o batente, começaram a fechar a segunda folha, mas pararam com o grito de Thomaz.
— QUE DIABOS! QUEM SÃO AQUELES TRÊS MALUCOS?
De fato, haviam três cowboys, ou assim pareciam, correndo desesperados da tempestade. Seguravam os chapéus com uma mão e acenavam alucinados com a outra. Corriam em direção ao abrigo, e precisavam de ajuda.
            Continua...

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